Projeto mostra a importância da prevenção e da amenização dos efeitos colaterais relacionados ao tratamento do câncer | Tereza Xavier
Pessoas com câncer são mais suscetíveis a efeitos colaterais de manifestação bucal devido ao tratamento radio ou quimioterápico. Existem
situações em que, devido ao desconforto, os pacientes deixam de se hidratar ou de se alimentar. Em casos mais extremos, o próprio tratamento contra o câncer precisa ser interrompido até que esses efeitos colaterais sejam tratados.
Pensando em minimizar esse quadro, o projeto de extensão Saúde Bucal na Oncologia Pediátrica, coordenado pelas professoras do Curso de Odontologia Luciana Villela e Soraia Grossman, realiza atividades de prevenção e presta orientações a crianças e adolescentes acolhidas pela Fundação Sara de Albuquerque, no bairro Cidade Jardim, em Belo Horizonte. A instituição acolhe crianças carentes em tratamento contra o câncer, com idade entre zero e 18 anos, vindas do interior à capital realizar tratamento.
As professoras do Curso de Odontologia Luciana Villela e Soraia Grossman, coordenadoras do projeto de extensão
O projeto começou no início de 2019 e desde então conta com a participação de oito alunos por semestre do Curso de Odontologia, orientados pelas professoras. As visitas acontecem na própria Fundação, uma vez por semana.
“Realizamos atividades lúdicas para promover a saúde bucal, passamos filmes educativos, fazemos escovações supervisionadas mostrando também aos responsáveis como deve ser feita uma higienização correta para que todos compreendam a importância da prevenção. Se eles tiverem condições bucais ruins os efeitos colaterais podem ser mais agressivos, então levantamos as necessidades odontológicas de cada criança, solicitamos laudo de liberação do oncologista e então realizamos o tratamento odontológico nelas. Controlando a cárie ou outros nichos de infecção essas manifestações acontecerão de forma muito mais branda, caso ocorram”, afirma Luciana.
A aluna Naiara de Souza Lima participou do projeto de saúde bucal auxiliando a pequena Duda, que está em tratamento contra o câncer
Efeitos colaterais do tratamento
De acordo com a docente, um dos piores efeitos colaterais que pode acontecer é a mucosite, que pode ocasionar o parecimento de grandes aftas na boca dificultando a ingestão de líquidos e alimentos, essenciais para uma boa e rápida recuperação dessas pessoas. “Dependendo do caso, é necessário interromper o tratamento contra o câncer para cuidar dessa intercorrência. Temos um laser de baixa frequência que é aplicado nas crianças e nos adolescentes com mucosite, trazendo uma analgesia imediata. A mucosite pode também ser prevenida através da aplicação do laser cinco dias antes da realização das sessões de quimioterapia
e radioterapia , que fará com que, caso ela ocorra, seja menos agressiva”, relata a professora.
Se for necessário realizar algum procedimento odontológico, os pacientes acolhidos pela Fundação são avaliados e encaminhados para atendimento na Clínica de Especialização em Odontopediatria da Universidade, no Campus Coração Eucarístico. Para Luciana, essa condução para um atendimento mais especializado é muito importante:
“Os pais e responsáveis chegam cheios de dúvidas do que pode ou não ser feito, pois tudo nessa criança é mais delicado. Muitas mães relataram terem levado o filho ao dentista da cidade em que moram e ele ter ficado com receio de atender a criança e causar a ela algum prejuízo, por falta de conhecimento”.
Apoio da clínica de odontologia
Maria Eduarda Ornelas Silva de Souza, nove anos, e sua avó Adriana de Paula Ornelas Monteira, da cidade de Três Marias, são acolhidas pela Fundação desde 2014, após a descoberta de um tumor no cérebro da criança. Duda, como é conhecida, é uma das favorecidas com as ações da Universidade.
Segundo a avó, após notar manchas pretas nos dentes da neta e que eles estavam se quebrando com muita frequência, levaram-na em um dentista da cidade que afirmou que não havia nada a ser feito porque era uma reação do uso prolongado, de um ano, de um antibiótico que Duda havia tomado. Porém, após ser avaliada pelas professoras e alunas da PUC Minas, a criança foi encaminhada para a Clínica da Universidade.
“Fizeram a extração de quatro dentes de leite, retiraram uma cárie e fizeram limpeza. Antes ela estava sentindo muita dor e agora não sente mais. Agora ela também nos cobra ajuda para escovar os dentes. O projeto despertou nela a consciência da importância da escovação correta, e também em nós. Só tenho a agradecer à PUC. Para nós que somos de uma família de baixa renda seria muito difícil fazer esses tratamentos, pois não são baratos”, ressalta a avó.
O projeto Saúde Bucal na Oncologia pediátrica não beneficia apenas as crianças e os adolescentes, de acordo com a professora Luciana, mas também os alunos do curso, pois apresenta a eles uma faceta diferente da profissão, mostrando outras possibilidades de atuação profissional, o que foi comprovado por Naiara de Souza Lima, aluna do 10º período, que participou do projeto no ano passado.
“A experiência foi única, pois pude ver na prática como a Odontologia tem um papel importante na promoção da qualidade de vida do paciente, não somente o médico. Aprendi a tratar do paciente como um todo, juntamente com outros profissionais da área da saúde. Abriu meus olhos para perceber que a Odontologia faz parte de um trabalho multidisciplinar”, reforça.