Amor de mãe está além da compreensão

Todos nós sabemos muito bem que nada se compara ao amor de uma mãe por seus filhos. Por eles, elas são capazes de qualquer sacrifício. E mesmo em face às maiores adversidades da vida, mantêm um sorriso aberto e o coração cheio de esperança. Para exemplificar isso, vamos contar um pouco da história de Eletheia Ferreira. Ela é mãe de três filhas e moradora de Teófilo Otoni, cidade localizada a cerca de 500 km de Montes Claros e 450 km de Belo Horizonte.

Em agosto de 2016, a caçula de Eletheia, a pequena Rebeca, na época com dois aninhos, começou a ter vômitos frequentes. Preocupada com a persistência do sintoma, a mamãe levou a filha ao médico, pois sentia que algo não estava normal. De imediato, nada foi diagnosticado, mas investigando um pouco mais, exames detectaram que Rebeca tinha intolerância à lactose, causa provável dos vômitos.

Não satisfeita apenas com aquele diagnóstico, a mamãe solicitou um encaminhamento para um neuropediatra. “Rebeca estava muito nervosa, agitada, não dormia bem, por isso eu queria conversar com um neuro e investigar se aquilo era normal”, explica.

Buscando diagnóstico na capital mineira

Após passar por um neuropediatra em Belo Horizonte, e com o pedido de uma ressonância em mãos, Eletheia tratou logo de marcar o exame. Entretanto, enquanto aguardava o período de uma semana para fazer o exame, Rebeca voltou a passar mal e, desta vez, precisou ser internada.

No hospital, a médica concordou com a mãe que a intuição dela não estava errada: tinha realmente algo estranho e era preciso investigar. Eletheia já sentia isso, mas a confirmação da médica fez seu coração gelar de medo. “O que veio em minha cabeça foi que Rebeca estava com microcefalia (passa tudo pela cabeça de mãe).”

Enfim, o diagnóstico.

O resultado do exame que Eletheia mais temia era o da ressonância. “Quando peguei o laudo, meu coração não me permitiu nem olhar, como já era meu costume, por trabalhar na área da saúde (auxiliar de enfermagem). Preferi ouvir do médico”, confessaE dele veio a pior notícia que uma mãe pode receber: um tumor havia sido detectado no cérebro de Rebeca e ela precisaria ser transferida para outro hospital para passar por um procedimento cirúrgico. “Meu chão caiu. Minha filha estava com câncer, e eu fiquei em completo estado de choqueOuvi ainda que, pela localização do tumor, era espantoso ela ainda estar falando, andando e, principalmente, enxergando, como estava”.

Depois de uma semana, Rebeca passou por uma cirurgia muito invasiva para retirada de amostras para a biopsia. Felizmente a cirurgia foi um sucesso, e depois de um período Rebeca recebeu alta e poderia finalmente voltar para casa, em Teófilo Otoni, e retornar somente depois de um mês para iniciar a segunda etapa do tratamento, que seria a quimioterapia.

Escuridão à frente

Como coração de mãe é algo além da compreensão, a mamãe Eletheia sentiu que não deveria voltar pra casa ainda. “Resolvi ir no dia seguinte, e dentro do taxi, saindo do hospital, Rebeca passou mal e foi tomada por uma febre de 40 graus, que não sedia.” Voltam mãe e filha para o hospital.

Segundo a mãe, Rebeca estava com acúmulo de líquido no cérebro, o que a levou a uma meningite que, por consequência, fez o tumor aumentar de tamanho rapidamente. E foi nesse momento que ela recebeu mais uma notícia muito difícil de ouvir: Rebeca havia perdido a visão.

A pequena foi encaminhada para uma conceituada oftalmologistas da capital, e foi dela que a mamãe ouviu mais uma frase dolorosa: “Mãezinha, sua filha nunca mais vai enxergar.” Eletheia conta que engoliu seco e disse para a médica que faria tudo que fosse recomendado por ela, mas sentia que aquilo não era verdade.  “Minha filha já tinha superado tanta coisa, e Deus não faz milagre pela metade. Eu acreditava que ela voltaria a enxergar”.

Esperança à frente

Em 2017, o mundo colorido de Rebeca foi tomado pela escuridão, mas nem por isso ela perdeu seu encanto.  Com o apoio da mãe e de toda família, da nossa equipe e de todos os profissionais que a acompanharam, Rebeca manteve tua tagarelice, o contato físico com as pessoas, aprimorou audição e paladar e a vida foi seguindo adiante.

Eis que algo, agora estranho, começa a acontecer: quando a mamãe colocava um objeto ao lado de Rebeca, ela pegava.  Quando movia algo na frente dela, ela acompanhava com os olhos. Cheia de esperança, Aletheia volta com a filha à oftalmologista. Depois de inúmeros exames, a médica chama a mãe no cantinho e diz enfaticamente: “Mãe, sua filha vai ler, e não será em braile.”

Aquela notícia encheu o coração de Aletheia de alegria.  “Eu me senti recarregada, confortada. Senti a recompensa de todo esforço e cuidado, que absolutamente tudo vale a pena pela família. Senti ainda mais a certeza de que mãe é amor, e amor de mãe não tem limite. Eu faria qualquer coisa por ela. Ela precisa de mim pra tudo e eu estou e estarei aqui por ela sempre”, afirma Eletheia emocionada e com uma certeza explicita em seu olhar.

Como mãe e filha chegaram até a Fundação Sara

Quando Eletheia decidiu ir pra capital em busca do diagnóstico da filha, elas ficaram na casa de parentes por cerca de seis meses. Depois que Rebeca perdeu a visão, ela foi matriculada no Instituto São Rafael, uma escola para deficientes visuais. Foi a equipe do Instituto que entrou em contato conosco para relatar o caso. Nossa equipe conversou com Eletheia e colocou nossos serviços à disposição.

“Eu desabei a chorar ao falar com a assistente social por telefone. Eu sentia que já estava na hora de sair da casa dos meus parentes, pois sei que existe um limite de tempo para incomodar uma família. Apesar de sempre ter sido muito bem acolhida, foi na Fundação Sara que voltei a me sentir em casa. Aqui eu tenho tudo que a gente precisa: hospedagem, alimentação, transporte até hospitais e laboratórios, apoio psicológico, social, pedagógico e todo carinho da equipe de funcionários e voluntários.”

Mesmo sem saber de onde, Eletheia precisou reunir forças pra ajudar a filha a passar por esse momento tão doloroso e sem esmorecer. Ela abriu mão de muita coisa, como ficar pertinho do marido e das outras duas filhas, Ana, de 18 anos e Julia de 13, que continuam em Teófilo Otoni. Sempre que Rebeca tem um intervalo entre as sessões de quimioterapia, a família se reencontra.  Atualmente, Rebeca continua com o tratamento quimioterápico, e no que depender de nós, seu mundo será cada vez mais colorido.